Diário Atual

Opiniao_do_leitorCorria o ano de 79 da Era Cristã, em meados de Julho, Pompeia estava a fervilhar de gente, escravos e artistas e o patriciado romano. Pompeia era a cidade intelectual do império romano. A algazarra era enorme, o circo, as corridas de bigas e quadrigas, tudo era movimento.

As famílias ricas instaladas nos seus palácios sumptuosos, sentiam a alegria costumeira, para os folguedos do tempo.

Dias antes saiu do Palácio do Palatino, Roma, o Senador Público Lentulus Sura, sua filha Flávia, sua escrava Ana, esta confidente e companheira da falecida Lívia, esposa do orgulhoso Senador Lentulus. Mais tarde junta-se à família, seu genro Plínio, homem devasso, mas em vias de recuperação moral.

Quando a família estava acomodada, o Senador já cego, sentia o coração inquieto, pressentia algo de estranho. Não eram os olhos que não os tinha, era o espírito arguto e de análises profundas, que lhe diziam que os perigos iriam acontecer. Lentulus cego, sua filha Flávia cega, sua fiel escrava, mas de uma luminosidade enorme. Só faltava o genro Plínio que chegou momentos depois.

Plínio foi um carrasco para Flávia, mas quando a maturidade chega aos ossos e à alma, soltam-se os remorsos de nossos actos, do nosso comportamento, acusando-nos de tantos erros.

Mais umas horas, o movimento agitado de Pompeia, dizia algo profundo ao cego senador, querendo inquirir em seu coração cansado, a grande metamorfose operada pelo sofrimento, deixando fluir os pensamentos do Nazareno. Mais para a tarde, o Senador Lentulus, sente o baralho agudo e diz para o genro, que em poucas horas terminariam sua romagem na terra. Ora meu pai, o palácio é forte nos acontecerá. Nesse momento as pedras e cinza do Vesúvio, penetram com fúria. Lentulus chama pela escrava Ana, sobrinha de Simeão, espírito iluminado e pergunta: Ana, traz a cruz de teu tio, que tu e Lívia, minha santa esposa, adorava e vós genuflexas oráveis aos Nazareno. Trá-la e junta-te a nós, onde deixaremos a terra em breves momentos. Mais alguns minutos, o Senador disse: eu vivi para César, Lívia viveu para Cristo. O meu orgulho cegou-me, mortificou-me até à exaustão, enquanto que Lívia, entregou-se para a luz, para a contemplação da espiritualidade, eu fiquei preso às vaidades do mundo material e aos seus falsos de pedra da minha Roma. Os quatro morreram abraçados, naquela tragédia, deixando soterradas todas as vaidades do mundo, dos títulos e dos haveres. Nada é nosso.

As lutas dos poderosos, onde por vezes só criam misérias, diante de ganâncias rotas, por vezes deixam sua carcaça numa cama de hospital, ulcerado o corpo, mas esmagado o espírito pobre e doente. As vaidades, as farropologias, a nobreza dos bens, mas a indigência de espíritos comprometidos, onde pagaremos centil por centil, ao pai da vida. O homem deve olhar para dentro de si, reflectir e seguir passos ordenados, onde suas pegadas, deixam um pouco de perfume.

Neste lapso de tempo, um escravo não havia conseguido entrar no Império, viu ruir tudo e morrer uma cidade inteira. O escravo era um novo neófito do cristianismo recente. Ficou geneflexo levantou os olhos ao céu e disse: Pai, nem grandes, nem pequenos, ricos e pobres livres e escravos, somos todos teus filhos. Tua justiça é eterna. Ainda não sei orar, mas sei ser a luz do mundo, o amparo dos deserdados, dos humildes como eu. Quando eu partir, Pai, recebe-me e perdoa este pobre filho.

Mário Areias

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