Diário Atual
Olga Melo Mestre em Psicologia Clínica Psicóloga Clínica na Associação Chaves Social, IPSS

Olga Melo
Mestre em Psicologia Clínica
Psicóloga Clínica na Associação Chaves Social, IPSS

Vivemos tempos difíceis e conturbados em que as exigências pessoais, laborais e familiares são muitas e as respostas e soluções para os nossos problemas são cada vez mais escassas, colocando o indivíduo numa situação de vulnerabilidade emocional. Consequentemente, a depressão pode emergir, como resposta à alteração do humor e estados emocionais, num agrupado significativo de sinais e sintomas pautados por sentimentos de tristeza prolongada, baixa autoestima, perda de energia, perda de interesse pelas atividades do quotidiano, fadiga intensa, irritabilidade fácil, alterações do apetite e do sono, redução da líbido, entre outros.

Na atualidade, em situações em que se verificam episódios sintomáticos recorrentes ou crónicos a terapêutica farmacológica, por via de prescrição de antidepressivos, tem sido a maior e mais fácil resposta. Como tal, assistimos a um aumento significativo e excessivo do recurso a antidepressivos, tantas vezes noticiado nos órgãos de comunicação social, suscitando questões relacionadas com os efeitos colaterais que podem resultar do uso abusivo, ou mesmo indevido, destes fármacos a longo prazo.

Preocupada com estas questões a comunidade científica publicou recentemente um novo estudo realizado numa amostra de 1829 pessoas medicadas com antidepressivos, concluindo que os efeitos adversos do uso prolongado dos mesmos parece ser mais preocupante do que aquilo que se pensava até agora. No que se refere aos efeitos biológicos colaterais sabe-se que se traduzem, principalmente, em náuseas, tonturas, distúrbios gastrointestinais e aumento do peso, contudo os efeitos psicológicos e interpessoais, parecem ter sido ignorados ou negados, ainda que comuns e assustadores. Neste estudo os indivíduos descreveram percentagens elevadas de ideação suicida, dificuldades sexuais, embotamento emocional e afetivo, baixa autoestima, diminuição de sentimentos positivos, diminuição da preocupação com os outros, entre outros. Contudo, maioritariamente os indivíduos referem não terem conhecimento prévio acerca dos efeitos colaterais, e que de uma forma geral os fármacos tinham contribuíram para o alívio imediato da sintomatologia depressiva.

Face a estes resultados, percebe-se que as pessoas continuam pouco informadas acerca das contra indicações dos antidepressivos e que, maioritariamente procuram respostas imediatas capazes de minorar o atual estado de sofrimento emocional. Com os resultados deste estudo não se pretende desvalorizar as vantagens do uso de antidepressivos, pois em determinadas situações eles são fundamentais para se reestabelecer um equilíbrio bioquímico necessário nos neurotransmissores e respetivos recetores, isto é para que o indivíduo fique devidamente compensado. Porém, o tratamento da depressão não deve ser exclusivamente farmacológico e os antidepressivos não devem ser tomados por longos períodos.

O sucesso terapêutico parece resultar da combinação da medicação com base em antidepressivos (em alguns casos) e de psicoterapia. Numa primeira fase, pretende-se com o recurso aos antidepressivos o alívio dos sintomas, posteriormente por meio de psicoterapia pretende-se trabalhar e resolver conflitos internos subjacentes de modo a que o indivíduo possa ao longo do processo psicoterapêutico compreender o seu mundo interno, atribuir significados aos sentimentos e emoções vivenciadas, assim como desenvolver um conjunto de ferramentas internas que lhe permitam, na continuidade, o desenvolvimento de estratégias eficazes na resolução de problemas e situações de dificuldades no quotidiano. Este processo pretende, concomitantemente, travar a longo prazo a reincidência de sintomatologia depressiva, assim como prevenir a emergência e o desenvolvimento de outras psicopatologias associadas.

Esta abordagem terapêutica procura evitar a longo prazo o recurso contínuo, persistente e prolongado de antidepressivos, prevenindo e minimizando os efeitos colaterais e adversos que possam resultar do uso abusivo dos mesmos.

No caso de dúvidas ou sugestões contacte a equipa através do correio eletrónico: saú[email protected]

 

 

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