Diário Atual

OpiniaoComeço por recordar que se completam em Abril, 40 anos da mudança do regime que caiu de podre, cheio de vícios, com muitas barras de ouro armazenadas, muito contestado pelos pelos países desenvolvidos e odiado por povos que conquistou e, em vão, tentou dominar pelas armas e pelos vícios que acumulara desde a implantação da República em 1910.

Se em 25 de Abril de 1974 a maioria dos Portugueses rejubilou pela queda do regime, logo vieram vícios semelhantes, quiçá mais gravosos para a sociedade. Como foram tomando conta de tudo e de todos, sob a capa dos sortilégios da democracia, o verdadeiro povo que tudo suporta e a nada reage, está hoje, passados 40 anos, mais descrente, mais desolado e mais esmorecido do que em 1974. É que nessa altura adivinha-se que a verdadeira democracia, iria chegar, de uma forma ou de outra e com a sua plenitude Portugal depressa atingiria a maturidade económica, cultural e política. Lamentavelmente sucedeu o contrário: O país está moribundo, os ricos cada vez mais ricos e, em muito maior número; e os pobres cada vez mais pobres, mais desiludidos e sem esperança, quer para os mais novos quer para os mais velhos.

A democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo. Teoricamente é uma palavra doce, um vocábulo que rima com alegria, simboliza fraternidade, equidade e justiça. Mas nenhuma dessas palavras substituiu a opressão, a liberdade, a igualdade e a justiça. Pelo contrário: reforçou muitos dos vícios dos 48 anos de regime; a liberdade permitiu que brotasse em libertinagem; a igualdade degenerou no seu oposto; a fome e a pobreza retratam-se hoje nos chamados bancos contra a pobreza e a fome e até a esperança, o desemprego e o gosto pela vida mudaram a psicologia das populações. A política é uma ciência que tem como suporte a ânsia e a ganância pelo poder. Para ser exercida como forma de bem governar, deveria aprender-se nas escolas de formação, como se aprendem a medicina, a arquitectura, a música e todas as artes.

Platão criou, 300 anos antes de Cristo, a oratória como alicerce de todas as ciências e concebeu a Academia para treinar os demagogos. Demóstenes foi um seu discípulo. Pretendendo viver da oratória e sofrendo de gaguez, treinava-a com um seixo na boca. Os nossos políticos, na sua generalidade, fracassaram na vida comum, a começar pelas escolas de formação. Os sérios, competentes e produtivos não se metem nisso. Como na política se ascende pelas jotas partidárias colocando cartazes e osculando as ordens dos seus líderes, revezam-se nos cargos e, uma vez empoleirados, como galos na capoeira, instalam-se, acomodam quem os ajudou a subir e lhes dá ordens; e, enquanto toda a sua clientela não estiver acomodada, nenhum outro cidadão, mesmo mais competente, mais sério e mais criativo, consegue um «osso» quer seja à mesa do orçamento municipal ou do Estado.

Esse gangrenoso processo de «aninhar» os seus à mesa dos orçamentos públicos e de produzir legislação que põe os deputados a «legislar», com os olhos no seu próprio umbigo, faz com que alguns mais «reguilas», acumulem cargos em que são simultâneamente: chefes, coordenantes e executores das causas próprias. Foi esse o circuito e ciclo vicioso que se foi instalando na democracia portuguesa, com os sucessivos governos e órgãos de soberania. Sem excepção. Incluindo a Justiça, na pessoa de Noronha do Nascimento e Pinto Monteiro. Quem os viu na lúgrebe apresentação da obra do penúltimo primeiro ministro, concordará com a minha relutância.

É por estas e por outras que os meus quase 61 anos de jornalismo militante e como miliciano que pertenceu à geração de capitães que operacionalizou o 25 de Abril de 1974, que uso a minha arma de combate, com esta frontalidade que sempre me caracterizou e que me lavará até ao último suspiro:entenda-se a geração dos que usam as televisões, os livros, as rádios e os jornais, como Medina Carreira, Paulo Morais, Camilo Lourenço, Mendes Bota, Perpétua Rocha, Sousa Tavares, José Gomes Ferreira e quantos se identificam com os seus insuspeitos gritos de revolta. Basta lerem os seus livros, verem e ouvirem os seus debates. Analisem os factos que Paulo Morais, por exemplo, denunciou num debate na AR, em 18 de Novembro último, conforme pode ver-se e ouvir-se num dos cinco vídeos de Mário Sá Pereira. São do domínio público esses péssimos exemplos:Duarte Lima, Miguel Frasquilho, Matos Correia, Adolfo Mesquita Nunes, Vera Jardim, Pedro Pinto, Lobo d´Ávila, Luís Matos, Rui Pena, Silva Peneda, Oliveira e Costa, Couto dos Santos e muitos outros, mormente banqueiros e advogados que dão pareceres a governantes, que cheiram a promiscuidade, alicerce da tenebrosa corrupção que enlameia a democracia. Essa meia dúzia de figuras públicas dos vários quadrantes ideológicos merecem a minha total concordância.

Barroso da Fonte

 

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