Diário Atual

OpiniaoFrequentemente dou comigo a pensar no que fizemos durante estes quarenta anos de Democracia. Esta quinta-feira comemora-se o dia do trabalhador. E se analisarmos detalhadamente concluímos que, excepto pelo facto de podermos falar de forma desassombrada sobre estes temas, muito pouco melhorou na sociedade portuguesa… O leitor deve estar a perguntar-se, mas o que lhe deu?! É simples. Na minha óptica, apesar de toda a luta que a minha geração levou a cabo para que tivéssemos uma sociedade mais justa e equilibrada, passados estes quarenta anos as mudanças são preferencialmente superficiais e pouco ou nada, em termos de fundo, de transformação de mentalidades ou de despertar de consciências aconteceu. Sim, é grande o meu desencanto relativamente a estas gerações que se viraram para os seus umbigos e esqueceram a solidariedade. Cada qual pensa no seu bem-estar e no dos seus, sem se preocupar com o próximo, com aquele com quem se cruza diariamente… Há uma ausência quase total de nos preocuparmos com o Outro. Isso entristece-me e cria em mim uma onda de indignação que tenho dificuldade em conter. No entanto, quando estou junto dos meus netos, noto neles uma atitude de maior profundidade relativamente ao Outro e aos valores da democracia. Isso consola-me. Por vezes questiono-me sobre o que falhou relativamente à educação que a minha geração passou às gerações posteriores. Sinto que na ânsia de aplanar-lhes o caminho criámos pessoas cujos valores se limitam preferencialmente, em satisfazer os seus interesses individuais esquecendo o facto de estarmos inseridos numa sociedade de que somos parte integrante… Aproximam-se as eleições europeias. Penso que a abstenção massiva só pode levar a que os nossos interesses, enquanto pequeno país que faz parte de uma Europa frágil e totalmente submissa aos valores do dinheiro e do capital, têm de ser dignificados. Só chegaremos a essa dignificação, só faremos valer os nossos interesses ou expressar a nossa vontade, enquanto país, se votarmos em massa, se expressarmos através da votação a nossa maneira de estar na Europa e o que pretendemos dela. Devemos estar cientes de que votar, nestas eleições para a Europa será a melhor forma de impor a nossa perspectiva, o que desejamos para nós. Essa possibilidade de expressar o meu ponto de vista através do voto foi uma das maiores se não a maior das conquistas de Abril. Usemo-la com dignidade, lucidez e consciência, independentemente dos partidos mas conscientes de que essa força de decisão está nas nossas mãos. Não nos demitamos, enquanto cidadãos.

Manuela Rainho

 

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