Diário Atual

Sebastião Imaginário

1: Mais uma. O FC Porto terminou a época da forma que a iniciou: a ganhar. Para os portistas esta foi uma época que perdurará por muitos anos nas suas memórias. Quatro conquistas em cinco possíveis, é de facto muito relevante. Uma época que muito dificilmente será repetível.

A Taça de Portugal foi um bom espectáculo, com uma primeira parte electrizante onde se marcaram sete golos. Obviamente que para os espectadores foi cativante, interessante, cheio de emoções. Mas se tal aconteceu, não deixa de ser verdade que, para além do mérito dos avançados, existiu muito demérito de quem defende.

A superioridade da equipa de André Villas-Boas raramente foi posta em causa por um Vitória de Guimarães que quis jogar o jogo pelo jogo e que pagou caro esse atrevimento. Mas, de qualquer maneira, nada a reprovar à postura, pois contribui para abrilhantar o jogo. Poderia jogar de uma forma mais calculista, mas o resultado, muito provavelmente, seria o mesmo: perder; embora isso não seja um dado adquirido e nem sequer se possa fazer o contraditório

Grande destaque para James Rodriguez com um jogo de elevada qualidade e para o antigo guarda-redes flaviense, Beto. O Flaviense, João Alves, entrou com o jogo perdido e pouco poderia fazer.

Para nós flavienses fica uma pequena consolação: O FC Porto sentiu mais dificuldades para vencer o nosso GD Chaves e acabou a suspirar pelo apito final, coisa que os vimaranenses nem de perto ou longe conseguiram.

 

2: Assunto recorrente quando se aborda a final da Taça de Portugal é o palco onde a mesma se realiza. Será que a final da Taça deve ser disputado sempre no Jamor? Pessoalmente, entendo que sim, embora devido à crise, admito que, excepcionalmente, se pudesse optar por outra solução, levando a festa a outros locais desde que houvesse acordo entre os clubes envolvidos.

Portugal não é o único país a ter um estádio definido para esse fim. É assim em Inglaterra, no Wembley, é assim em França, no San Dennis. É verdade que outros países como a Itália, Holanda, Bélgica e a Espanha não têm, mas esses também não possuem um Estádio Nacional

Todos lhe reconhecem deficiências e que o mesmo precisa de melhoramentos significativos para acompanhar a modernidade dos Estádios construídos para o Euro.

Há problemas de segurança que levam a que hoje fosse praticamente impossível realizar uma Benfica/Porto. Não há casas de banho em condições, porque aqueles “caixotes” que fazem de casa de banho…Terão que ser criadas mais condições para haver bares capazes de darem vazão à afluência que sempre acontece, os balneários também não são bons e a sala de imprensa, nem sequer existe, embora a tenda sirva perfeitamente.

Apesar das deficiências apontadas, ser exceptuarmos os fiéis seguidores de Pinto da Costa, alguns apenas se limitam a dizer amém, serão poucos os que trocariam uma presença no Vale do Jamor por qualquer outro Estádio. Perguntem, por exemplo, aos milhares de transmontanos que na época passada tiveram o privilégio de estar presentes.

Será que vale a pena fazer as melhorias que o Estádio necessita? A mística que o Vale do Jamor empresta ao acontecimento, é único, é contagiante, pelo que julgo que sim, que valeria a pena, até porque retirar a final da taça do actual local seria acabar com uma tradição e apunhalar a festa do futebol.

 

3: A Assembleia-geral do Desportivo de Chaves da semana passada não foi conclusiva, tendo tido continuação na presente semana. De qualquer maneira houve uma decisão importante: Mário Carneiro afastou-se de vez da gestão do clube, o que na prática significa que a partir dessa data quaisquer actos que pratique em nome do clube não têm qualquer validade, são nulos.

Surpreendentemente, não deixo de constatar que o Presidente da Mesa de Assembleia desta vez aceitou a renúncia do Presidente da Direcção, aquilo que não fez, mas devia ter feito, naquela assembleia que visava o afastamento de Mário Carneiro do comando dos destinos do clube. Que mudança de circunstâncias se verificaram para esta tomada de posição do Presidente da Mesa de Assembleia? Mistério, até porque os estatutos não foram alterados. Pelo que…prestou-se um mau serviço ao clube!

 

4: Outra assembleia importante foi a de credores, que decorreu no Tribunal, terça-feira dia 24, relativamente ao processo de insolvência que está movido ao clube. Ainda não há decisão, mas há um princípio de acordo para o clube e os credores apresentarem uma proposta de criação de uma SAD (Sociedade Anónima Desportiva), a qual terá que passar pela aprovação dos associados.

Há que esclarecer os sócios sobre o que se pretende fazer. Mas afinal o que é uma SAD?

Sem querer ser muito exaustivo, até porque não sou um especialista na matéria, tentarei sintetizar de forma simples o que está regulado no Decreto-Lei n.º 67/97 de 3 de Abril, o qual já sofreu duas alterações (Lei n.º 107/97, de 16 de Setembro e Decreto-Lei n.º 303/99, de 6 de Agosto, embora o essencial esteja no DL 67/97, e alertando, desde já, que o grosso do regime se encontra no Código das Sociedades Comerciais, que relativamente a este tipo de sociedades tem cerca de 200 artigos.

a) As Sociedades Anónimas Desportivas (SADs) são empresas criadas pelos clubes, de futebol e de outras modalidades, para um regime de gestão com as regras básicas das sociedades anónimas, como a divisão do seu capital social em acções, mas com algumas especificidades exigidas pela actividade desportiva.

b) O capital social para constituir uma SAD numa competição não profissional é de 250.000€, o qual será aumentado para 500.000€ em caso de subida à Liga Orangina e para 1.000.000,00 € em caso de subida à Liga Zon Sagres.

c) O capital social dever ser 100% realizado em dinheiro, podendo 50% desse valor ser diferido por um período não superior a 2 anos. O capital subscrito pelo clube fundador (entre 15% e 40) pode ser realizado em espécie (Passes dos jogadores, p.e)

d) As principais finalidades das SADs são a participação numa modalidade desportiva, a disputa de competições desportivas profissionais e a promoção e organização de espectáculos desportivos.

e) Ao contrário das associações desportivas tradicionais, as SADs têm na sua acção fins lucrativos (embora no futebol seja muito raro ver a divisão de dividendos/lucros).

f) Os dirigentes dos clubes são desresponsabilizados, pois os que não integrem uma SAD estão sujeitos a um “regime especial de gestão” das respectivas secções profissionais nos termos do qual passarão a ser responsáveis de forma pessoal, ilimitada e solidária, pelas quantias que os clubes deixarem de entregar para pagamentos ao fisco ou à segurança social.

g) Enquanto os clubes que originam a sociedade desportiva não podem deter mais do que 40% e um mínimo 15% do respectivo capital, as Regiões Autónomas, os municípios ou as associações de municípios poderão deter até 50%.

h) Os donativos das sociedades desportivas aos clubes de origem são integralmente dedutíveis no IRC (uma grande vantagem). As SADs têm vantagens fiscais em várias actividades (p. e. exploração de bingos)

Não tenho dúvidas de que este é um modelo de gestão mais rigoroso, mais transparente e mais eficiente, sendo que os clubes não perdem a sua identidade. No caso do nosso clube a sua designação passaria a ser: Grupo Desportivo de Chaves, SAD.

5: Para que não restem dúvidas, clarifico uma opinião manifestada na semana passada. Quando escrevi que” os adeptos do clube devem colocar quem dirigiu o clube nos últimos anos no banco dos réus por gestão danosa”, não me estava a referir exclusivamente à gestão de Mário Carneiro. Assim não se deve fazer uma interpretação restritiva mas sim mais ampla, extensiva, mais abrangente.

Continuo a manter a opinião, que a nível financeiro a gestão de Mário Carneiro, apesar de ser negativa, não terá sido aquela que mais dano provocou ao clube, mas que a nível desportivo a sua gestão foi um autêntico desastre. Diria que neste capítulo, embora não possamos esquecer a presença histórica no Jamor, foi um terramoto: a equipa desceu sempre um patamar, pelo que pode ficar conhecido como o Presidente desce-desce.

Penso ter esclarecido hipotéticas dúvidas.

 

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