Diário Atual

OpiniaoMaria Helena de Ataíde Vilhena Rodrigues nasceu em Casas Novas, concelho de Chaves. Conheceu Amílcar Lopes Cabral no Instituto Superior de Agronomia, como colega. Ele nasceu em Bafatá em 1924. Estudaram juntos e casaram em 20 de Dezembro de 1951. Fixaram residência na Av. Barbosa du Bocage, 90, em Lisboa. Ele recusou o convite para professor assistente, mas aceitou ser adjunto dos serviços agrícolas e florestais do Ministério do Ultramar. Em 20 de Setembro de 1952 chega a Bissau e passa a residir na casa do director da Granja Experimental, onde se lhe junta a Mulher. Começa a trabalhar no Posto Agrícola Experimental de Pessubé (Bissau) que logo virá a dirigir. Em 1953 organiza o Recenseamento Agrícola da Guiné-Bissau. Nasce nesse ano e local a 1ª filha do casal: Iva Maria. Em 1955 funda o Movimento para a Independência Nacional da Guiné. Em 1956 cria o PAI (Partido Africano da Independência) que tempos depois se alarga a Cabo Verde com o nome de PAIGC. Nesse mesmo ano funda o MPLA. Entre 1955 e 1960 foi um verdadeiro caixeiro viajante, entre Portugal e as Províncias Ultramarinas (Angola, Cabo Verde e Guiné). Era de tal maneira activista que foi pioneiro na instituição dos diversos movimentos de libertação que influenciou o deflagrar da guerrilha. Correu mundo em busca de apoios e influências ideológicas para que em 1960 deixasse definitivamente Portugal e se envolvesse com a libertação dos povos africanos. Em 16 de Julho de 1967 iniciou as emissões da Rádio Libertação a partir de Conakry. E em Outubro desse ano fez a primeira entrega de armas à população da região de Quitafine. Em Fevereiro de 1968 ataca o aeroporto de Bissalanca (a 10 km de Bissau), com o apoio de um comando do Exército popular. Nesse ano faz uma intervenção na Comissão de Direitos Humanos da ONU, contra os crimes do colonialismo português. Em 1969 participa na conferência da Solidariedade com os Povos das Colónias Portuguesas no Sudão. Em 3 de Fevereiro desse ano é assassinado Eduardo Mondlane, Presidente da Frelimo. Em 1969 teve uma segunda intervenção na ONU contra os Portugueses e em 22 de Dezembro seguinte, a ONU produz a Resolução 275 sobre a ocupação indevida pelas tropas portuguesas. Em Dezembro de 1969 o PAIGC já controla dois terços do território da Guiné-Bissau, numa altura em que o General A. Spinola já era aí o governador militar. Em Janeiro de 1961 dá-se o início da luta armada em Angola. Essa situação de guerrilha subversiva estende-se a todas as possessões até Timor. Os conflitos generalizaram-se e Amílcar Cabral que estudara em Portugal e por aqui andara em funções profissionais, relacionadas com a sua formação agrária, foi o cérebro desses conflitos que ditaram a queda do Império em 1974. Mas Amílcar Cabral não chegaria a ver libertados os povos africanos, porque foi assassinado em 20 de Janeiro de 1973, em Conakry, por aqueles que recrutara e que o traíram. Os assassinos do PAIGC acabaram por ser identificados e, severamente, punidos. Aristides Pereira é eleito Secretário Geral desse Partido e Luiz Cabral assume a presidência, talvez por respeito ao irmão que fora vítima da ânsia de poder. A revista África de Setembro de 2013, assinalando os 40 anos do assassinato de Amílcar Cabral, na página 5 escreve: «40 anos depois da independência, proclamada por João Bernardo «Nino» Vieira, em 24 de Setembro de 1973, a história da pátria de Amílcar Cabral, é um mar de destroços, conspirações, golpes, contra-golpes, guerras entre os senhores da guerra na disputa dos negócios chorudos de drogas».

Ora este ideólogo guineense que viveu apenas 49 anos (1924-1973), casou com uma sua colega de curso e de universidade: Maria Helena. Em 1953 nasceu a filha Iva Maria que actualmente pertence aos altos quadros do MPLA. Em 14-8-1962 nasce a Ana Luísa que se licenciou em medicina e que vive em Braga. Após a morte de Amílcar Cabral, Maria Helena e as 2 filhas tiveram de desertar, de país em país, em busca de paz e estabilidade. Soubemos que foi longa e muito difícil essa fuga. Sabemos ainda que a filha mais nova vem a Casas Novas com frequência e que não gosta de falar de política, enquanto que a mais velha vive em Angola e se mantém fiel ao ideal do pai.

Resta-me dizer que Amílcar Cabral, quando trabalhou em Portugal e talvez por ter casado com uma Transmontana, chegou a trabalhar na Zona Agrária de Mirandela. E nessa qualidade exerceu funções no Posto Experimental da Veiga, em Montalegre. Meu Pai (1906-1986) foi ali geireiro agrícola nesse tempo. Quando fui mobilizado para Angola meu pai disse-me – meu filho, pode ser que encontres por lá o meu ex-patrão, Engº Amílcar Cabral, casado com uma Engª de Chaves e que, de vez em quando vinha, aqui ao Posto em serviço. Era uma pessoa muito simpática e sei que ele, anos depois, voltou para o país dele, para trabalhar pelos africanos.

Fui e voltei sem encontrar o «patrão» de meu Pai. Mais tarde foi meu irmão para a Guiné. Ambos – e muitos mais – fomos, onde não deveríamos ter ido. Mas Cabral caiu na fogueira que ateou para mal de muitos que ainda não conheceram a paz que ele próprio nunca teve.

 

Barroso da Fonte

 

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1 comentário

  1. Jose Luis Peralta on

    Gostava de saber o contacto da Dra Ana Luisa.
    Não a sabia em Braga. Julgo qua a mãe, Engª Lena Rodrigues Vilhena (Cabral depois Cerqueira) faleceu em 2008, em Braga.
    Procuro uma prima, da Dra Ana Luisa, de nome Eduarda.

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