Diário Atual
Eng. Miguel Caetano

Eng. Miguel Caetano

Foi preciso que a desgraça acontecesse para que, mais uma vez, se questionasse o problema da saúde ou da falta dela e que o tema volte de novo para a praça pública.

O Centro Hospitalar de Trás os Montes e Alto Douro (CHTMAD), com sede em Vila Real, tem a funcionar um serviço de urgência classificado como polivalente que, por definição, deve incluir a valência de Neurocirurgia. O compromisso do governo central com os representantes políticos locais e a população do Alto Tâmega e Barroso tinha como base a perda da autonomia clínica e financeira do Hospital Distrital de Chaves, em favor do acesso a cuidados de saúde diferenciados resultantes da concentração dos serviços clínicos num Centro Hospitalar. Essa mais valia far-se-ia notar de forma decisiva nas situações de urgência/emergência que implicam perigo de vida. Infelizmente não foi preciso esperar muito tempo para descobrir que o ‘’ rei vai nu ”. Um jovem de 20 anos teve a infelicidade de sofrer um acidente de viação grave, com traumatismo crânio-encefálico ( TCE ), e a pouca sorte de ter ocorrido em Chaves. Numa patologia onde uma assistência rápida e especializada é fulcral para a melhoria do prognóstico, o nosso concidadão apenas a obteve a 400 Km de distância…

Afinal o CHTMAD, com ‘’urgência polivalente”, não tem capacidade assistencial para responder à patologia do foro neurocirúrgico, mantendo-se a referenciação dos doentes do Alto Tâmega e Barroso com esta patologia, relativamente frequente, para o Centro Hospitalar do Porto /Hospital de Santo António (CHP/HSA), o oposto das expectativas criadas.

O procedimento recomendado seria o Hospital de Chaves contactar o CHP/HSA para transferir o doente com TCE. Se o CHP/HSA perante o caso clínico determinasse como muito provável a necessidade de internamento hospitalar e tendo em conta a alegada ausência de vagas faria sentido a procura da mesma numa outra unidade hospitalar com a mesma diferenciação e a uma distancia razoável, nomeadamente o Hospital de São João, Hospital de Braga e o Hospital de Vila Nova de Gaia. Tendo como verdadeira a informação que os outros Hospitais do Norte com a valência de Neurocirurgia não tinham vagas, cabe ao CHP/HSA a resolução do problema. O doente deveria ter sido transferido para o serviço de urgência do CHP/HSA para ser avaliado por neurocirurgia e receber o melhor tratamento possível. Face à actual organização da referenciação hospitalar, o CHP/HSA tem a mesma responsabilidade perante um TCE ocorrido em Chaves ou na avenida da Boavista – Porto.

Na verdade, esta problemática tem um campo mais vasto porque Chaves e, neste caso o distrito de Vila Real, mas também o Distrito de Bragança, não podem nem devem ter uma atitude passiva perante atitudes discriminatórias em relação à sua população. Já nos basta sofrer as consequências do forte desinvestimento no sistema nacional de saúde tal como em outras áreas, concretamente na educação e no sistema judiciário. O ditado ‘’para lá do Marão mandam os que lá estão” parece-me que ´´já foi chão que deu uvas”. Os cerca de 416 mil cidadãos desta terra transmontana (CIM´s de Alto Tâmega, Douro e Terras de Trás os Montes) têm o direito de ver cumprida a promessa de ter um verdadeiro Hospital Central com Urgência Polivalente, que para esta vasta região tem sede em Vila Real.

Os Srs. Presidentes de Câmara em articulação com os senhores 1ºs Secretários Executivos Intermunicipais das respetivas CIM´s, têm de saber colocar o problema e exigir uma solução ao Ministério da Saúde.

Considerações finais

1.Para terminar, pretendo formular um voto muito sincero, para que o inquérito que a Administração Regional de Saúde do Norte mandou instaurar, de forma a apurar as circunstâncias que levaram a que um jovem de Chaves com TCE tivesse sido encaminhado para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, não caia definitivamente no esquecimento e não tenha nenhuma consequência para esta ocorrência lamentável.

2. Os meios de comunicação social informaram, na semana passada, que o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra ficou em 1º lugar no ranking da prestação de cuidados de saúde no contexto nacional. Pudera, só neurocirurgiões tem 19 (dezanove, leram bem!).

3. Pela informação colhida junto do avô paterno, de quem recebi autorização para publicar a foto do Hugo, este encontra-se já em recuperação, contudo, desejo sinceramente que deste acidente não resulte nenhuma sequela incapacitante para o ente querido da família Pimentel.

 

 

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