Acabado de chegar de férias, e entre telefonemas para preparar a nova temporada do Vilar de Perdizes, o presidente dos barrosões, Márcio Rodrigues, falou À Voz de Chaves sobre a temporada passada. Para a história ficou a estreia do relvado sintético na aldeia, e os primeiros títulos oficiais do emblema de Vilar de Perdizes, com a conquista do distrital de infantis de futsal, da AF Vila Real, e da 1ª edição da Taça Distrital de Veteranos. No entanto, para o líder, que aos 30 anos entra na 9ª época consecutiva à frente do GD Vilar de Perdizes, o clube ainda tem muito por concretizar.
A Voz de Chaves: Começamos pelo futebol sénior, uma época com mexidas a nível de treinadores…
Márcio Rodrigues: Foi uma época desgastante, com as obras do nosso campo andámos com a casa às costas durante a pré-época, depois a obra atrasou-se, adiámos a primeira jornada, treinávamos depois do Montalegre, os jogadores chegavam tarde a casa… Depois ainda tivemos o encerramento da estrada para ser melhorada. Já com a época a decorrer, tivemos uma mudança repentina de treinador, Vítor Gamito, que vinha de meia época fantástica na anterior, com 15 jogos e 13 vitórias e um empate. O grupo tremeu, senti-o animicamente em baixo pela primeira vez nestes anos todos. O Rui [Valente] passou para o cargo de treinador principal, algo que não irei voltar a fazer, mas tinha que lhe dar a oportunidade, valorizar o trabalho, pois é muito competente e tem muito futebol nas veias. Não correu bem, mas não quer dizer que no futuro não corra. Não me arrependo em nada as decisões tomadas…
Juntaram-se agora dois barrosões, um a presidente e outro a treinador. É importante para o Vilar?
A vinda do Tony foi um milagre que nos aconteceu. Não é por ser o Tony, que jogou na Champions, por ter jogado na Liga Portuguesa. Ele é um exemplo para todos, de superação. Saiu de casa de França muito novo, veio para Portugal com falsas promessas de empresários, andou à deriva, foi para o Chaves por amor à camisola, sem salários por vezes, no Estrela da Amadora também viveu a mesma situação. Chegou à Liga com 27 anos. Jogou no Cluj da Roménia. É um exemplo para os nossos jovens, que nunca desistam de trabalhar. É uma pessoa amiga do amigo, trabalhadora, e um barrosão de gema. Nunca escondeu que era barrosão, levou o nome da terra pelo mundo inteiro e é um verdadeiro ‘guerreiro da raia’. Vai começar esta época e espero que a acabe, pois as propostas têm sido muitas.
Que época pretende o clube fazer na Divisão de Honra?
Tivemos saídas por opção pessoal dos jogadores, do Jorge e Vaskes. Reforçamos o nosso plantel, naquilo que acho, do pouco que percebo de futebol, aquilo que é o motor de uma equipa, o meio-campo. Precisávamos de algo diferente, e contratamos jogadores que chegaram de uma época exigente, profissional, no GD Chaves equipa satélite [Edu, Rafa e João Teixeira]. O Teixeirinha estava há muitos anos sem jogar, devido a um problema de saúde, mas já treinava connosco e vai-nos ajudar. É mais um transmontano, e somos uma equipa 100% transmontana, com misto de Chaves e Montalegre.
Mas têm dois pódios na Divisão de Honra, qual a fasquia para esta época?
Para o Vilar de Perdizes traçar um objetivo, nunca será antes de dezembro. Somos uma aldeia, teoricamente um clube pequeno, temos conseguido verdadeiros milagres, contra vilas e cidades, com orçamentos muito inferiores, ao contrário do que dizem, pois o orçamento é para o futebol, futsal feminino e formação… não é só futebol. Tivemos sete equipas em competição na última época. Claro que queremos ganhar todos os jogos… mas queremos ser sólidos, consistentes e sérios, pois só assim é que se consegue fazer coisas boas. Queremos ter os pés bem assentes no chão, chegar a dezembro, olhar para a tabela, ver a situação da taça, pois é também um sonho vencer um troféu e a taça está mais ao nosso alcance, por eliminatórias. Espero que seja este ano…
Ainda sobre o futebol, a questão das arbitragens tem sido uma luta do Vilar…
É gravíssimo… Quando andámos lá em cima e ficámos em segundo lugar, olharam para nós de outra forma, e se calhar por termos andado mais em baixo, já foi diferente. Mas foi um ano muito, muito, muito mau. Tenho plena confiança, através de algumas trocas de impressões com alguns dirigentes, que estão atentos, que a associação está atenta ao que se passa. Acho que os clubes têm que se unir, no objetivo que é o futebol, pois trabalhamos para o futebol e temos de nos unir. O que importa a associação trabalhar em prol de competições se os clubes não se unem? A AFVR quis fazer uma prova de futebol praia e os clubes não se uniram, mas o Vilar disse presente. A prova de veteranos, o Vilar foi pioneiro e sugeriu a criação da competição. Temos de mudar o paradigma do futebol distrital, deixar de andar com o guarda-chuva atrás do bandeirinha, como se diz. Contra mim falo, pois este ano tive uma atitude para com uma equipa de arbitragem em que disse para mim que nunca mais ia voltar a ter. Errar é humano, mas reconhecer o erro é de sábios. Mudar a mentalidade é difícil, mas tem de ser para todos.
“Sempre acreditei em ter um sintético, as pessoas é que não acreditavam”
Se há cinco anos, ou mais, te dissessem que ia haver um sintético em Vilar de Perdizes, o que dizias?
Eu acreditava… as pessoas é que não acreditavam, o que era diferente [risos]. Eu dizia ‘vou ter um sintético’ e respondiam-me ‘podes é ter mais giestas no campo, pois crescem muitas à volta’. Não basta sonhar, é preciso trabalhar e nós trabalhámos. Nós porque não sou apenas eu, é uma direção. Trabalho muito, dedico-me muito, mas tenho um bom grupo de trabalho comigo. A obra está feita, mas é preciso mantê-la, continuar a trabalhar, pois de nada ser ter o sintético se não tiver uma equipa competitiva, sócios para irem à bola… quando ficámos em 2º lugar tinha 60 sócios e atualmente são 230.
O que vai evoluir ainda mais? O que falta fazer ainda?
Para já temos uma bancada coberta para 300 pessoas sentadas, um bar, cozinha de apoio, casas de banho, e este ano temos no plano de atividades fazer um bar exterior, uma lacuna que tivemos mas vamos colmatar numa obra a cargo apenas da direção. Temos um projeto à espera do apoio do IPDJ para melhorar infra-estruturas de balneários, mudanças de canalizações, sede nova, sala multimédia e ginásio.
É mais fácil atrair pessoas novas para a aldeia assim?
Claro… se tivermos ginásio não faz sentido este estar fechado ao público. Queremos ter pessoas no clube, podemos receber eventos na sala multimédia, palestras de treinadores… mas não só futebol, temos em Vilar um congresso de medicina popular, podemos receber, congresso sobre a sexta-feira 13, sobre fumeiro. Queremos englobar mais gente e tendo infra-estruturas é mais fácil.
É um sonho ter o Vilar de Perdizes num patamar nacional?
Já foram vários sonhos cumpridos. O primeiro é o Vilar estar vivo, esse está cumprido, seja com ou sem pelado, em 1º ou em último. O trabalho de toda a gente desde 1976 até este ano estamos a respeitar todo o trabalho feito. O nosso passado também é importante. Segundo sonho foi a presença na Taça de Portugal, um momento histórico… quem diria. Depois, foi ver a obra feita, pois é a melhor obra da aldeia dos últimos 20 anos. Conseguir uma obra daquelas é um motivo de orgulho. De ano para ano vamos concretizando os sonhos. Queremos continuar a sonhar, mas acordados, com os pés no chão. A única coisa que peço é as mesmas armas que dão aos outros para podermos trabalhar. Somos um exemplo do que é fazer muito com pouco.
Quando falas em querer singrar no futebol, pode ser fora do clube, em outro patamar?
O mundo do futebol dá muitas voltas e rápido, mas sinceramente nunca pensei nisso. Agora, não fecho as portas a nada, pois é um sonho que tenho, estar no mundo do futebol. Se a oportunidade surgir irei analisar e ponderar, mas nunca hei-de descurar o futuro do Vilar de Perdizes e se tiver que dizer não a uma oportunidade em prol do Vilar irei faze-lo. Eu não quero ser mais um. Não quero ser mais um presidente, quero marcar pela diferença, com regras e rigor.
“Sempre assumi que com condições ia trabalhar em prol da formação”
A equipa dos veteranos foi uma luta ganha?
Gosto de justificar o bem que nos fazem, e o município fez-nos bem, ajudou-nos com as infra-estruturas, e qual a maneira de justificar o investimento? É havendo atividade… abrindo portas à comunidade barrosã. Os veteranos são a seleção do barroso, temos gente de vários pontos do concelho, e formamos um grupo fantástico. Começámos em dezembro, andámos sempre 10, 12 jogadores, a suportar o muito frio que se fez este inverno, e o plantel completo treinou apenas duas vezes antes da prova.
Foi uma estreia a vencer…
Foi uma das experiências mais bonitas que tive no mundo do futebol, pois houve uma camaradagem espetacular, com diversão, com jantares de grupo, com humildade, pois não éramos melhores que ninguém e defrontámos equipas fortes, como o Mondinense e o Vila Real. Dignificámos e honramos o barroso. Foi uma bonita forma de valorizar os nossos veteranos, os nossos ‘velhotes’, de tudo o que fizeram em prol do futebol distrital ao longo das suas carreiras, e tínhamos até dois que nunca tinham jogador, e o Tony Afonso abriu mesmo o marcador na final.
Com melhores condições vai voltar a haver formação em futebol?
Já tivemos formação no pelado, com infantis, mas eram más as condições, com poucos miúdos… neste momento não temos desculpas, não somos de nos esconder na sombra, sempre assumi que com condições ia trabalhar em prol da formação, e depois de no ano passado não ter sido possível, pelos atrasos que a obra teve, este ano vai haver. Temos uma equipa formada de juvenis e estamos a formar uma segunda equipa.
E nos mais novos…
A política que temos dentro do clube, neste momento, com o Tony Silva, coordenador do futebol, e o Víctor Dias, coordenador do futsal, é que temos de trabalhar com regras e rigor, com um objetivo comum. Dentro do amadorismo queremos ser o mais profissionais possível. Até aos infantis irão estar no futsal, até porque pelo clima os mais novos treinam melhor em pavilhão, e depois queremos ter formação em futebol a partir de iniciados. Claro que se um miúdo tiver mais aptidão para o futsal seremos os primeiros a encaminha-los para a formação do Montalegre.
Falando do futsal, o primeiro título oficial do clube foi pelos infantis de futsal…
Este título… a minha medalha que recebi pela conquista do distrital vou emoldura-la, com uma fotografia deles, pois acompanho estes miúdos desde o primeiro dia da escolinha do Vilar de Perdizes, que já vinham anteriormente com o Víctor Dias. Ser campeões com miúdos que tu fabricas não tem explicação.
No clube cabe o futebol e o futsal?
O Vilar é um só. Somos conhecidos pelo futebol mas também pelo futsal. Este título não nos torna melhores nem piores que ninguém, mas acarreta-nos responsabilidades, para continuarmos a trabalhar em prol dos miúdos e do clube. Iremos manter os seniores femininos, e a formação do futsal.
Diogo Caldas