Diário Atual
Rui Pinheiro

Rui Pinheiro

Os resultados das últimas eleições europeias, vieram a confirmar os meus maiores receios, não pela circunstância do Partido Socialista ter vencido (ainda que tangencialmente), mas porque demonstra bem o divórcio que existe entre eleitores e eleitos.
Sempre defendi que o acto de não votar era das atitudes cívicas mais irresponsáveis. Sempre entendi que devíamos usar o voto como forma de expressão.
Sucede porém que desta feita resolvi deliberada e conscientemente juntar-me àqueles que em tempos mais critiquei, não exercendo o meu direito ao voto. Vários motivos a tal me levaram, sendo certo que sempre aceitarei as críticas de quem apontar tal actuação como uma cobardia disfarçada.
Fui acompanhando os debates europeus entre os principais candidatos das diversas forças europeias além fronteiras nacionais. Destacavam-se Martin Schultz e Juncker como os principais líderes das maiores famílias políticas europeias. Não descortinei quais os objectivos (além da inerente sede de poder) que norteavam as suas candidaturas. Não compreendo se pretendem caminhar para uma europa mutualista, para uma europa federalista, para uma europa social, para uma europa igualitária, para uma europa a cinco, a doze, a quinze ou a vinte e oito.
Face a todas as dificuldades que se vivem no espaço europeu esse debate faria todo o sentido. Urge definir objectivos e clarificar as metas a atingir. Referi uma europa a cinco, doze, quinze ou vinte e oito para reforçar as dúvidas que me assolam. Continuamos com uma UE cujo percurso se desvia cada vez mais daquilo que se aprende nos manuais. Temos uma Europa do Norte rica, próspera e desenvolvida e uma Europa do Sul que cada vez mais se afunda. Nenhuma das famílias partidárias europeias teve o denodo de definir o que pretendem afinal de contas dos chamados PIGS (Portugal, Italy, Greece, Spain) ou países do Sul. Era tempo de reflectir todo o projecto europeu.
Mas aquilo a que se assistiu foi ao seu inverso. Para funcionar-mos bem e como um todo temos que nos desenvolver sustentadamente. Temos que criar uma verdadeira associação (não falo propriamente numa federação) para que exista um desenvolvimento sustentável e para que todos beneficiem desse mesmo crescimento. Nesta crise o principal beneficiado foi a Alemanha, o que se afigura injusto. A UE europeia precisa de se redefinir, de se repensar, o que não se logrará com estes líderes.
Por cá ao que assistimos durante o período eleitoral … a nada a não ser um verdadeiro circo! Toda a campanha se centrou nas questões internas. Os candidatos andaram a apregoar falsidades e a difundir desinformação.
Mas alguém acredita naquilo que apregoaram, desde a esquerda ao centro direita? Andam a gozar com a nossa cara ao fazerem afirmações e promessas que não são exequíveis.
Com a adesão à UE parte da nossa soberania nacional foi perdida. Deixamos de ter capacidade ou poder para desvalorizar a moeda fazendo baixar os preços das nossas exportações (por exemplo). Perdemos autonomia de decisão a muitos outros níveis, pelo que nesta campanha se exigia clareza, frontalidade e verdade!
Senti que estavam a fazer de mim e de muitos outros um joguete político, encarando-se estas eleições como umas pré-legislativas.
Face a estas circunstâncias, face a esta (perdoem-me a parca ortodoxia do étimo) PALHAÇADA porque razão eu iria votar? Porque razão é que eu iria demonstrar que estava empenhado e interessado nos destinos do meu país?
Circo … aprecio imenso o de Monte Carlo! Pensei e ponderei e tomei esta decisão … não vou contribuir para este espectáculo, daí que pertença à triste maioria dos abstencionistas.
Não houve um debate de ideias, não se verificou uma reflexão dos caminhos pelos quais Portugal poderia e deveria enveredar na Europa para atingir os seus objectivos.
Não calarei o meu grito de revolta e o repúdio que me merecem todos estes candidatos!
Pior que assistir a este triste espectáculo, é verificar que nenhuma ilação foi tirada. Agora toda as forças políticas clamam que há que derrubar este governo!
Para quê? Para haver mais circo e no final ganhar a abstenção?
Senhores políticos tenham juízo e façam um favor a este país … demitam-se, emigrem, desapareçam ou então calem-se!
Ao invés de se reflectir acerca desta maioria de dois terços, anda-se a tentar sempre alcançar o poder que nem “gaiatos” desmamados! Nunca mais conseguiremos aprender que temos que distinguir actos eleitorais!
Achei curiosa a justificação de Catarina Martins do BE para a descida do seu partido. Deve-se em grande parte à grande emigração de uma juventude escolada e qualificada. Fico contente por saber que só os grandes crânios é que votam BE!
Então seguindo o mote, façam o favor de seguir as suas pisadas, referindo-me aqui a todos os partidos, e vão pregar para outro lado, mas bem distante das fronteiras de Portugal!
([email protected])

loading...
Share.

Deixe Comentário