Diário Atual
Cátia Borges

Cátia Borges

Tradicionalmente tem vindo a aconselhar-se os doentes com hiperuricemia (ácido úrico elevado) a reduzir a ingestão de bebidas alcoólicas e de alimentos ricos em purinas, incluindo vegetais. No entanto, recentemente têm surgido estudos que sugerem uma mudança na terapêutica nutricional convencional. Até há muito pouco tempo a correlação entre a ingestão de alimentos ricos em purinas e os níveis plasmáticos de ácido úrico nunca foi estudada aprofundadamente. Choi e col. têm vindo a publicar novos estudos em que evidenciam que a intervenção nutricional na hiperuricemia deve ser mudada. As novas recomendações implicam não só alterações do padrão alimentar mas também aumento da atividade física. Ao contrário do que se pensava, a ingestão de proteína vegetal não se encontra relacionada com os níveis de ácido úrico, os vegetais ricos em purinas (Leguminosas) não aumentam os níveis plasmáticos de ácido úrico e nem todas as bebidas alcoólicas têm o mesmo impacto. A ingestão de alimentos ricos em frutose aumenta o risco de hiperuricemia e de gota. A ingestão de café e produtos lácteos parece ter um efeito protetor.
Estilo de vida e fatores de risco de hiperuricemia  e gota:
1. Exercício Físico e perda de peso: a perda de peso encontra-se associada com redução dos valores de ácido úrico e do risco de gota.
2. Limitar a ingestão de carne vermelha (carne de vaca, cordeiro, anho, cabrito) uma vez que esta encontra-se associada a um aumento dos valores de ácido úrico e risco de gota. Deve-se preferir a ingestão de aves, ovos e peixe (0-180g /dia de carne ou peixe). A ingestão de alimentos vegetais como fonte proteica é muito vantajoso pois as leguminosas (feijão, grão, ervilhas, lentilhas, soja) são protetoras de várias doenças metabólicas, incluindo a hiperuricemia.
3. Limitar a ingestão de marisco (camarão, caranguejo, lagosta, etc.) e moluscos (polvo, lulas, chocos, amêijoas, potas, etc.) uma vez que estes aumentam o risco de hiperuricemia e de gota uma vez que são ricos em purinas.
4. Ingerir produtos lácteos com baixo teor de gordura: o consumo destes produtos associa-se a uma diminuição dos valores de ácido úrico e do risco de gota. O consumo destes produtos têm um efeito uricosúrico, ou seja, aumentam a excreção de ácido úrico na urina. Recomenda-se 2 porções de produtos lácteos/dia sendo 1 porção de leite equivalente a 240mL, 1 porção de iogurte a 2 iogurtes sólidos ou 1 iogurte líquido e 1  queijo fresco pequeno.
5.Ingerir proteína de origem vegetal (leguminosas secas, soja), oleaginosas (nozes, amêndoas, avelãs, etc.) e vegetais ricos em purinas uma vez que estes não aumentam o risco de hiperuricemia ou de gota. Estes alimentos são uma excelente fonte de fibra, vitaminas e minerais. Os indivíduos com maior consumo de proteína de origem vegetal apresentam 27% de redução do risco de gota comparadamente com os indivíduos com menor ingestão de proteína de origem vegetal.
6. Reduzir a ingestão de bebidas alcoólicas, particularmente se bebe mais do que o recomendado (2 copos de vinho/dia nos homens e 1 copo de vinho/dia nas mulheres), estas bebidas, particularmente a cerveja e o licor aumentam os valores de ácido úrico e o risco de gota. Evite também a cerveja sem álcool uma vez que esta também é rica em purinas. O vinho do Porto e Sherry pelo seu teor em álcool e frutose também devem ser evitados.Se beber faça-o dentro das quantidades recomendadas (não se esqueça que existem situações clínicas em que a ingestão de bebidas alcoólicas está complemente desaconselhada), e prefira o vinho tinto, já que a ingestão em baixa quantidade deste não se encontra associada ao aumento do ácido úrico.Se não ingere bebidas alcoólicas NÃO deve começar a fazê-lo!
7. Limitar o consumo de bebidas açucaradas, refrigerantes, compotas, mel e doces de fruta estes alimentos são ricos em frutose que aumenta os valores plasmáticos de ácido úrico e o risco de gota.  Os frutos doces (p.e. maçãs e laranjas) também aumentam o risco de gota devido à sua riqueza em frutose, no entanto, devido aos benefícios que trazem para a saúde, a restrição de fruta não se encontra recomendada.É de lembrar que os frutos secos (ameixas secas, figos secos, uvas passa) são extremamente ricos em frutose, estes deverão ser evitados. P.e. 100g de ameixas frescas contêm 3.07g de frutose, 100g de ameixas secas contêm 12.49g de frutose.
8. A ingestão de café e café descafeinado associam-se a uma diminuição dos valores de ácido úrico e do risco de gota. Não se recomenda a ingestão de mais de 4 chávenas de café/dia uma vez que a cafeína aumenta as perdas urinárias de cálcio.
9. Suplementos de vitamina C até 500mg/dia podem reduzir os níveis de ácido úrico. No entanto, não deve iniciar qualquer suplemento nutricional sem primeiro falar com o seu médico e/ou nutricionista.
Os níveis elevados de ácido úrico significam que algo está mal no seu estilo de vida, a melhor terapia é uma mudança dos seus hábitos, procure ajuda profissional se necessário. No caso de dúvidas ou sugestões de temas contacte a equipa através do correio eletrónico:
saú[email protected]

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4 comentários

  1. Porque não existe um consenso nos produtos alimentares que são permitidos serem ingeridos por doentes com valores elevados de hiperuricemia ( ÁCIDO ÚRICO)?
    Tenho consultado vários sites e até hoje ainda não encontrei dois iguais.
    Será que a alimentação varia de doente para doente?

      • Carlos Pires on

        Tenho a mesma dificuldade que os Senhores.
        Acho no entanto que a investigação mais recente é que deve prevalecer. Os estudos trazem-nos constantemente informação, que em certos casos, podem até contradizer os anteriores. Reparei em algumas datas das publicações e num video onde um médico falou de alimentos reintegrados na dieta, entre outros o TOMATE. Outros ainda que dependem da forma como são preparados.
        Vou consultar a pessoa que melhor conhece o meu organismo e que sabe disto tudo: a minha Médica de Família.
        As melhoras para todos …

  2. Os estudos não são melhores por serem recentes. Isso revela um enorme desconhecimento do modo como funciona a investigação. Só a acumulação e repetição de estudos traz mais algima ceretza, mesmo assim instável. Um estudo mais recente poderão ser melhor nem pior. É o conjunto e o consenso que tende a ter mais valor.
    Talvez melhor é seguir os conselhos coincidentes, mas os conselhos das fontes que investigam mas que também fazem crer que são independentes de interesses. Desconfiar dos “papagaios” que replicam as mesmas leituras e fazem parecer que um conselho é prevalecente. Evitem revistas cor de rosa e até revistas sobre saúde cometem o mesmo erro de análise.
    Reduzir o volume de alimentos ingeridos e diversificar é desde logo uma enorme defesa.
    Bom senso!

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