No passado fim de semana, dias 26, 27 e 28, realizou-se em Valpaços o I Simpósio Ibérico sobre Lagares Rupestres. O pavilhão multiusos foi o local escolhido para a realização deste evento.

Existe uma elevada quantidade de lagares rupestres no concelho de Valpaços, sendo mais uma prova da ancestral cultura da vinha no concelho, que seria não só para consumo próprio, mas também para comercialização, destacando a grande importância que este setor teve e vem a ter até aos dias de hoje.

O grande objetivo da realização deste Simpósio foi o de aprofundar o conhecimento sobre os Lagares Rupestres que existem em abundância na Península Ibérica, sobretudo neste concelho da Terra Quente. Sobre este assunto ainda pouco se sabe, por isso, durante estes três dias reuniram-se em Valpaços vários académicos, arqueólogos, historiadores, enólogos, enófilos e viticultores de Portugal e Espanha com o fim de trocarem e divulgarem conhecimentos, não só sobre estes lagares, mas também sobre as vinhas e qual o tipo de vinho que os nossos antepassados consumiam. Há provas de que o vinho de Valpaços era servido nas mesas dos imperadores em Roma. “Este Simpósio vem dar a visibilidade necessária de um produto importante para o setor económico que é o vinho. Nós valpacenses sabemos, de facto, da grande afirmação dos nossos vinhos, não só nos dias de hoje, mas também no passado”, destacou Amílcar Almeida, presidente da Câmara Municipal de Valpaços.

O primeiro lagar rupestre foi identificado em Valpaços durante a década de 70 na freguesia de Tinhela, e desde então seguiram-se muitas outras descobertas em outras freguesias. Que se tenha conhecimento, existem no concelho de Valpaços 101 lagares, dos quais 34 se encontram na freguesia de Santa Valha. Destes 101 lagares, todos foram cavados em granitos, à exceção de um que foi cavado em rocha metamórfica. “Admite-se que os lagares tenham sido cavados junto a vinhas e em locais onde a rocha permitia a abertura dos mesmos. Não existe nenhuma cronologia absoluta sobre os mesmos. No entanto, pode supor-se que existem lagares mais simples, isto é, não têm uma superfície bem definida para a pisa da uva, mas têm obrigatoriamente um canal para a recolha de mosto. Por outro lado, existem outros que aproveitaram uma cavidade de erosão natural para a pisa da uva, tendo sido acrescentado unicamente um canal de escoamento. Este canal é o único elemento antrópico”, explicou, durante a sua intervenção no Simpósio, o Dr. Adérito Medeiros Freitas, natural do concelho de Valpaços e grande investigador e historiador destes lagares rupestres.

Pedro Abrunhosa Pereira, António do Nascimento Sá Coixão, Alberte Reboreda, Eduardo-Breogan Nieto, Victor Rodríguez Muñiz, Virgílio Loureiro, Ana Cláudia Ferreira Alves, Luís Vicente Elías Pastor, Margarita Contreras Villaseñor, Asunsión Martínez Valle, Luis Paadin, Luís Jorge Cardoso de Sousa, António González Cordero, Gregório Francisco González, Yolanda Peña Cervantes, Fermín Emiliano Pérez Losada, Maria João Correia Santos, Joaquín Berrocal Rosingana e Adérito Medeiros Freitas foram os oradores que durante todo o fim de semana levaram os lagares rupestres e o vinho a discussão.

“Atendendo que se encontra concentrado no concelho de Valpaços o maior número de lagares rupestres e que testemunham muitíssimo bem a importância que a cultura do vinho teve no passado neste concelho, como tem ainda nos dias de hoje, quisemos, de facto, atrair a Valpaços nestes três dias uma série de pessoas capazes de poder partilhar informação importante no que concerne aos lagares e à importância do vinho à data”, explicou Amílcar Almeida.

Sempre com a intenção de elevar o nome de Valpaços e de o levar aos quatro cantos do mundo, o autarca valpacense exprimiu o desejo da criação de um roteiro relacionado com o vinho: “No passado mês de setembro fizemos uma lagarada na freguesia de Santa Valha num lagar e esse vinho foi este fim de semana dado a provar a todos os presentes. Queremos de facto criar uma marca dos vinhos tratados à data no sentido de se criar um roteiro cultural e que Valpaços possa de facto também despontar o interesse dos amantes da cultura para que estes se possam deslocar a Valpaços. Porque Valpaços não é só setor primário. Há muito para visitar e conhecer”.

O Simpósio não se cingiu apenas ao auditório do pavilhão multiusos. Para que os mais curiosos pudessem ver de perto estes lagares rupestres, no domingo, último dia do evento, foram organizadas duas atividades ao ar livre: a Rota dos Lagares de Ribacalvo, na freguesia de Vilarandelo, com cerca de 4 km, e a Rota dos Lagares Ciprestes, na freguesia de Santa Valha, com 2 km de extensão.

Todos os participantes do Simpósio tiveram ainda direito a um exemplar do livro “Lagares Cavados na Rocha”, da autoria do Dr. Adérito Medeiros Freitas.
O I Simpósio Ibérico dos Lagares Rupestres foi organizado pela Câmara Municipal de Valpaços, pela Comissão Vitivinícola Regional de Trás-os-Montes, pela Associação de Viticultores Transmontanos, pelo Instituto Politécnico de Bragança – Escola Superior de Comunicação, Administração e Turismo, com o apoio da Junta de Freguesia de Santa Valha e da Junta de Freguesia de Vilarandelo.

Maura Teixeira

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