Diário Atual

OpiniaoCom este calor que veio assim de repente, quase sem avisar, fico como que entorpecida e chego a pensar que a expressão miolo mole é uma realidade… Mas como as férias ainda vêm longe e compromisso é compromisso aqui me tem a tentar alinhavar meia dúzia de linhas que pareçam coerentes e sobretudo que não defraudem os leitores mais fiéis.
A semana passada fui convidada pelos formadores que desenvolvem o meritório trabalho de ajudar os reclusos a melhorarem o seu nível de escolaridade, para assistir à representação por parte do pessoal do T.E.F., mais propriamente o Grupo de Teatro Infantil; a peça é de António Torrado: Teatro às Três Pancadas. Foi um momento bem passado em que todos se empenharam. Os actores, no sentido de levar aquele grupo de pessoas alegria e sobretudo uma forma nova de observar a realidade; Os reclusos, no sentido de se abstraírem da sua realidade pesada e rigorosa.
Há quem diga que quem está preso leva uma vida flauteada e que são um peso para a sociedade. Discordo em absoluto. Cada um daqueles homens, apesar do riso, dos comentários jocosos e de parodiarem o que se ia passando, deixam transparecer uma tristeza e amargura que é palpável e observável. Para mim, que prezo a liberdade, ser privado dela é algo absurdamente duro e implacável. Por outro lado, o facto de ficarem privados dessa mesma liberdade leva cada uma dessas pessoas a aperceber-se das suas fragilidades, dos erros cometidos que os levaram até àquela situação.
Por isso mesmo, penso que talvez seja oportuno falarmos nesse lado mais obscuro que todos temos e que teimosamente tendemos a ignorar e a esconder… de nada nos vale fazê-lo. Devemos usar essa «sombra secreta» como uma arma que depois de desvendada e sobretudo depois de reconhecida, deve ajudar-nos a crescer e a desenvolvermo-nos.
Domingo passado tive o privilégio de participar numa meditação conjunta em que, orientados por uma pessoa luminosa e generosa nos ensinou a descer ao nosso interior mais íntimo e dessa forma consciencializarmo-nos de como somos todos maravilhosamente únicos e, na nossa essência, luminosos. Para além duma Paz e Felicidade indescritíveis, apercebi-me de que esses momentos partilhados por todos os que integrávamos o grupo facultaram um vórtice de Luz e Harmonia que se expandiu pela nossa região. Não tenho a certeza, mas estou crente que parte dessa Luz emanada desse tempo de comunhão foi direccionada até aos que anteriormente visitara e os ajudou, duma forma ou doutra a tornarem-se mais conscientes de que todos podemos errar ou falhar mas também a todos o Universo dá a oportunidade de através das suas experiências e da sua dedicação melhorarem.
Ora neste tempo de entorpecimento e canícula páre, amigo leitor, páre e reflicta o quanto é feliz apesar dos obstáculos e escolhos que a vida põe no seu caminho. Basta olhar para o lado…

Manuela Rainho

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